Nesses 13 anos trabalhando como Policial do Estado da Bahia, presenciei inúmeras situações de violência extrema. Suicídios, homicídios nas mais diversas especificações fizeram e fazem parte de um cotidiano “para muitos” assustador, tanto pelos números expressos anualmente pelo Mapa da Violência no Brasil, quanto pela forma como esses foram e são cometidos. Claro que a violência assusta. O para muitos, no caso escrito, remete a atual banalização da violência, a qual passa a figurar como algo normal dentro do status quo social brasileiro, onde a cada dia centenas de assassinatos são cometidos.
Assassinatos esses que se tornam ainda mais cruéis quando percebemos que atingem uma imensa parcela da nossa juventude. Todos os dias rapazes entre 12 e 19 anos são assassinados no Brasil. Só em pensar que muitos não tiveram a oportunidade de chegar a minha idade... Muitos não concluíram seus estudos, não foram inseridos no mercado de trabalho e não tiveram a chance de constituir família, como e com quem quisessem, fico realmente entristecido! Entristeço-me, principalmente, por observar a omissão de uma sociedade, ao meu ver anestesiada, que não reage contra o descaso de um Estado que fecha os olhos para as mortes cotidianas. E quando refiro-me à reação, que fique claro não me reportar a criação de projetos sociais por ONGS nas comunidades, os quais pipocam por todas as cidades e têm o seu grande valor, mas não atacam raiz do problema que é o modelo social e econômico brasileiro. Refiro-me, sim, a uma reação contra esses políticos que há anos se perpetuam no poder, mantendo seus privilégios e os seus preconceitos às custas do sofrimento da população e porque não dizer do uso da violência.
Vale ressaltar que a maioria dos jovens vitimas de homicídios são negros. Temos no Brasil um Senado Federal, uma Câmara dos Deputados, e no Estado da Bahia a Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais formadas majoritariamente por brancos. Como pensar em resolver a situação? O genocídio dos negros é uma realidade que pouco é discutida nessas instâncias. Em Porto Seguro centenas de jovens foram mortos nos últimos anos e pouco ou nada foi feito para resolver a situação! Estou cansado desses discursos inúteis que não ultrapassam as janelas dos prédios públicos! Dia após dia deparo-me com adolescentes mortos, jogados em um lugar qualquer! Isso não toca os nossos políticos? Ouvi tempos atrás alguns vereadores dizendo que necessitávamos de mais policiais na cidade. Como policial só posso dizer que estão enganados. Nossos jovens não necessitam ser policiados. Precisam, sim, de escolas públicas mais atrativas e eficientes, com Profissionais da Educação valorizados. Os jovens do Município necessitam de formação profissional, de oportunidades para um primeiro emprego, de atividades culturais que envolvam as diversas áreas das artes. Necessitam de incentivo à prática de esportes ( não apenas futebol)... Enfim: Educação, Trabalho, Cultura e Esporte! Se realmente queremos mudar essa trágica situação temos que mudar os sujeitos que ocupam a Câmara de Vereadores. É importante termos um representante da juventude eleito, é necessário termos negros, mais mulheres, termos gays, lésbicas... na Casa do Povo Enfim: modificar o status quo! Diversificar para poder atuar com maior eficiência contra a violência que impera por trás das belas praias expostas aos turistas.
Adriano Marinho - Policial Civil Lotado em Porto Seguro - BA
Adriano Marinho - Policial Civil Lotado em Porto Seguro - BA